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Mostrando postagens de julho, 2025

Rei na Rua: o fim justifica os meios

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Crítica do espetáculo Rei na Rua, do grupo Bando Golíardis, SP, por Simone Carleto Fontes Recorrente nas histórias de origem popular, nas quais a função precípua é tornar ridículas figuras de poder, histórias como “A Roupa do Rei”, “O Quadro das Maravilhas”, entre tantas outras, causam a inversão das estruturas sociais e demonstram o poder do povo, sobretudo representado pela classe trabalhadora. No caso do espetáculo “Rei na Rua”, trata-se de releitura da história “A Roupa do Rei”, ou “A Roupa Nova do Rei”. Encontrada em inúmeras versões, como A roupa nova do imperador, O fato novo do imperador, essas e outras histórias foram registradas e publicadas no final do século XIX pelo dinamarquês Hans Christian Andersen. Em “Rei na Rua”, o elenco do Bando Golíardis, formado por Dani Marin, Marcelo Rôya, Sabrina Motta e Tiago Cintra, adentra a cena trazendo ares medievais, com figurinos criados pela trupe e o Clã das Cores. Remetem à ancestralidade das trupes andarilhas, maltrapilhas, e vêm ...

Des-montagem: Processos da Ato Reverso

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Crítica do espetáculo Ressoar: Memórias e canções da Ato Reverso, da Cia Ato Reverso, SP, por Simone Carleto Fontes Ressoar: Memórias e canções da Ato Reverso, traz a proposta de coralidade, a pesquisa sobre a barbárie, e o universo feminino. Soar de novo, de modo a olhar para trás como a figura de Sankofa, e revisitar a trajetória, compõe o experimento de unir em números musicais encenados as histórias das peças da Trilogia da Barbárie: “Maria Inês ou O que você mata pra sobreviver?”, “Abigail Williams ou de onde surge o ódio?” e “Helena ou De quem são as mãos que fazem a guerra?”, além de “Passados: Mulheres em busca de árvores” e “De tudo aquilo que fizemos juntas”, partes da pesquisa de mestrado de Nathália Bonilha. Costurando memórias, canções e textos dos espetáculos desmontam seus trabalhos, experimentando recursos de narração, canto, representação e interpretação. Mote para a criação do grupo e seu primeiro trabalho, “Maria Inês ou O que você mata pra sobreviver?” surge da ca...

Abysmo entre as eus e os outros

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Foto de Rafael Mafra Crítica do espetáculo Abysmo, da Cia Antropofágica, SP, por Simone Carleto Fontes As palavras seguem ecoando no corpo… “Encontra-se em um abismo, no fundo do abismo, numa solidão quase total, e descobrir que só a escrita vai te salvar. Não ter um tema para o livro, não ter ideia alguma para o livro é se encontrar ou se reencontrar diante de um livro. Uma imensidão vazia. Um livro eventual. Diante de nada.” Sentir a luz dos refletores… quanto tempo! Sentir a efemeridade da cena que te capta e te devolve para você mesmo. Não é sobre se expor, mas sobre a coragem de se despir. Abysmo veio junto de Filoctetes, de Vinícius Torres Machado.  Fez-se uma intertextuavisualidade, uma interação como se diria antropológica, em cheio à efeméride da perda de um filho. Assuntos para uma cena, temas para um livro e de repente, em sua improvisação, Alessandra, nome de atriz e nome de personagem, Alessandra Queiroz acaba por fazer uma personagem contemporânea, praticamente alegór...

Bruxas de ontem, de hoje

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Foto de Denis Pessoa Crítica do espetáculo Bruxas de Salém, da Turma 94, do Curso Técnico em Teatro Senac Lapa Scipião, SP, por Simone Carleto Fontes Ao refletir sobre produções realizadas em cursos profissionalizantes, reconhece-se que, na maior parte das vezes, um dos desafios primordiais é compatibilizar diferentes trajetórias e experiências em uma cena harmônica. Entretanto, nesse caso, a encenação cuidada com elementos diversificados que exploram criativamente os talentos reunidos, dinamiza a montagem, na qual toda equipe em cena, do início ao fim da peça, mantém o desejado estado de jogo teatral durante o desenvolvimento da obra. Destaca-se a movimentação e desenhos de cena inventivos, surpreendendo o público a cada instante. A respiração articulada coletiva e individualmente, garante o fluxo de energia pulsante durante a encenação, promovendo a sensa...

Minas das Utopias

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Vem de Minas Gerais o grupo de teatro Trupe Qualquer. Com elenco formado por Beatriz Lira, Christiam Concolato, Giovanna Stehling e Jeann Cavallari, a companhia desafia as distâncias, com cada um de seus integrantes residindo em cidades diferentes. Afinadíssimo em interpretação, voz e corpo, o grupo tem direção de Rafael Coutinho. Dessa mina de talentos vem tanta coisa boa, aportando em São Paulo no significativo espaço cultural da Paideia Associação Cultural, sede da Cia Paideia de Teatro. Fomos recebidos por gente da companhia, que estava em peso organizando o local, entre elas João, Giovanna e Aglaia. Aglaia Push, uma das fundadoras do coletivo, nos acolheu compartilhando novidades sobre as participações d’A Paideia, inclusive internacionalmente. Em seguida, se daria essa importante troca com o grupo mineiro. Minas Gerais, território conhecido por suas riquezas materiais e imateriais, do ouro e da cultura, tem nesse e outros grupos um manancial de utopias. De fazeres teatrais únicos...